No terreiro de minha infância existia uma árvore frondosa e rica em frutos e pássaros. Ficava bem grudada nos fundos da casa, onde começava o terreiro, que ia dar num córrego. A fruta, chamada anona, tinha o sabor de nove frutas; suas flores, se abriam em um tripé com perfume de maçã.
E assim vivemos juntos. Subir naquela velha ávore, gangorrar em seus galhos, braços, foram as primeiras viagens de um astronauta que conheceu a cachorra Laika e o triste Gagarim, um dos primeiros heróis da televisão.
Nonada. Hoje aprendo com as rosas do Rosa e viajar ao passado e estar no presente, sem futuro, que não seja o do pretérito imperfeito. De certo, só a morte e a gargalhada do palhaço no circo.
Já havia começado essa história de blog em outras épocas. Se perderam como o efêmero dos bits e bytes. Retomo agora como dever de casa, exercício jornalístico de experiência narrativa seminal.
Conseqüência. A palavra ilustra a imagem que abre este texto; disponível em
O pé de anona não existe mais, o cheiro e a lembrança de seus frutos raros, sim. A casa foi demolida, abriga uma garagem de ônibus.
O perfume colorido e o charme da revolução utópica de Cuba, ao ritmo do merengue, com cuica, berimbau e tambor, no sorvo de um "morrito" fica no ar.
O que somos, ou melhor, o que fazemos do que conseguimos ser?
Meu caro "Mano Velho" trouxe sementes de anonas da Espanha; tentamos cultivá-las em Rio Acima, há 60 km de Belo Horizonte. Nasceram três pés e morreram antes de ser fruta: faltou o calor da "velha casa", o rolar de águas do ribeirão do Yung - que hoje está canalizado sob uma avenida em Juiz de Fora.
Neste primeiro post rendo homenagens ao "velho marinheiro", chefe da ilha da fantasia, que deixou de ser bordel para ser hoje um celeiro de idéias, e sobrevive, apesar da probreza de nosso continente latino-americano.