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sábado, 2 de maio de 2009

CARRANCAS

Rio Preto de águas turvas, profundas, corredeiras parvas e remansos doces. Nas pedras escuras de suas margens, o contido sussurro de Yara, musa sem sexo que se lava no rio em dia de lua cheia. História de pescador. Vale dizer e digo. Podia ficar ali, debaixo da ponte do trem, horas a fio, entre um pilar e outro; Olhos fixos n'água, a certeza de seu rolar para o mar distante, Borbulhar da corrente, silêncio de pássaros e tarde de sol, até que: Como por um reflexo da brisa quente, meu corpo abraça e rio. A luta com a correnteza até o outro vão da ponte. Trabalho duro para braços fracos; coração combalido De amores que não vingaram, de lutas perpétuas, parábolas de justiça, metáforas do ser. Daquela margem não se volta enquanto canoa passa ... Canoeiro se espanta e grita: - Cuidado môço, este lugar é de perigo: redemoinho; sorve a vida pra fundura do rio. O canoeiro segue seu curso no rio. Eu fico a pensar... Se fui pra que voltar? De medo não paro ... é que trago na proa do barco vida Carranca do diabo e não me espantam os demônios do rio. Viver é isso... um canoeiro ... os perigos do rio e o canto da sereia na noite de lua. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Veja aqui uma pérola digital que resgata o olhar navalha de W. Benjamin nas nervuras da umburana das carrancas do Velho Chico, riomar das Minas Gerais, que sucumbe, à míngua, na lábia dos saqueadores de plantão nos poderes político e econômico do Brasil globalizado, entubados nos corredores dos três poders de Brasília, que só é visível na televisão. Ainda, vale citar o poema de Carlos Drummond de Andrade, postado em OVERMUNDO, na home: "Carrancas: A Cara do São Francisco", de Luis Osete:
Exposição de Carrancas As carrancas do rio São Francisco largaram suas proas e vieram para um banco da Rua do Ouvidor. O leão, o cavalo, o bicho estranho deixam-se contemplar no rio seco, entre cheques, recibos, duplicatas. Já não defendem do caboclo-d'água o barqueiro e seu barco. Porventura vem proteger-nos de perigos outros que não sabemos, ou contra assaltos desfecham seus poderes ancestrais o leão, o cavalo, o bicho estranho postados no salão, longe das águas? Interrogo, prescruto, sem resposta, as rudes caras, os lenhados lenhos que tanta coisa viram, navegando no leito cor de barro. O velho Chico fartou-se deles, já não crê nos mitos que a figura de proa conjurava, ou contra os mitos já não há defesa nos mascarões zoomórficos enormes? Quisera ouvi-los, muito contariam de peixes e de homens, na difícil aventura da vida de remeiros. O rio, esse caminho de canções, de esperanças, de trocas, de naufrágios, deixou nas carrancudas cataduras um traço fluvial de nostalgia, e vejo, pela Rua do Ouvidor, singrando o asfalto, graves, silenciosos, o leão, o cavalo, o bicho estranho...
Luís Osete · Juazeiro (BA) · 10/3/2008 20:11 O que me dizem do poeta de pedra sentado eternamente na calçada de Copacabana, no RIo de Janeiro, sem manifestar sua opinião sobre os que vem e os que vão pelo túnel Rebouças? Será que basta "olhar as saias de quem vive pelas praias" a curtir o seu "corpitcho"? Outro dia roubaram os óculos do poeta mineiro... por pouco tempo... outro já está no lugar para o turista ver. Drummond de pedra está nas ruas e esquinas de Itabira, terra natal do poeta, consagrada no mapa geopolítico nacional como a glória da pátria e da Cia Vale do Rio Doce, que se mudou de lá quando o minério de ferro se exauriu. Aos itabiranos desempregados da mineiradora, resta a lembrança poética de serem feito de ferro, tristeza e orgulho, como cantou o poeta mineiro radicado no Rio de Janeiro por necessidade do ofício e razão de poeta.
hasta la vista!

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