NONADA
No início deste século vi meu trabalho se esvair junto com a esperança de que o espaço público possa resistir às privatizações da globalização midiática. A máquina politica mostrava sua eficiência, em Minas Gerais, ao classificar de pública sua televisão estatal, inserida nos propósitos do Governador, de seus correligionários e de partidos filiados. Em suma: a televisão cultural e educativa seguia seu rumo, com a complacência de seus trabalhadores, não mais revolucionários, mas, adequados ao "plano de negócio" estabelecido e em conformidade com seu grau de "empregabilidade".
Caminhante segui novos rumos, preferi a estrada à estrebaria. Na academia, coordenei curso de Comunicação Social - ainda tinha curso de jornalismo no sertão, depois, só ficou Publicidade e Propaganda. Jornalista virou docente, embebido de verdades passadas, que fizeram o ganha pão e a prática literária de Machado de Assis; a investigação do "Pena Branca" trouxe as denúncias contra o "esquadrão da morte"; Hamilton Ribeiro explode com uma mina na guerra do Vietnam, anunciado a derrota dos EUA, em cobertura para a revista "Realidade"; Stanislaw Ponte Preta e Henfil no Pasquim, sem esquecer os "heróis da resistência", que sobreviveram às quebradeiras das investidas militares, na ditadura, fugindo do Brasil.
Este jornalismo ficou, junto com a poesia de Carlos Drummond. Por outro lado, a poeira das redações e o barulho das máquinas de escrever, foram substituídos pelo silêncio acéptico dos computadores em rede. Não mais repórteres nas redações, jornalistas investigativos pesquisam na internet, acompanhados por marketeiros e "costas largas" que definem o tom e o ritmo das notícias. A verdade instantânea, diferente daquela produzida em 25 frames por segundo ou 350 toques por minuto.
Deu no que deu: Além dos cabos e fibras óticas, o Brasil do povo é o que o povo vê na TV. A privatização do espaço público chegou no campo das idéias. Escola pública vira manchete policial, a escola deixa de ser um "locus" do pensamento para ser o Circo Voador: professores loucos e deprimidos e jovens desnorteados. Como na televisão a escola se afasta da cultura genuína, dos méritos agregatórios da família, não promove o livre pensar. segundo a lógica empresarial, as escolas se apoiam em números, estatísticas, fornecem informação a rodo e conhecimento em gotas, Aqui o espaço público não pensa, recebe a mensagem pronta, como na educação bancária, criticada pelo mestre Paulo Freire.
De outro mestre, espanhol, recebo a notícia de um seminário sobre Educação para os Meios na Espanha. Enquanto isso, vamos "levando a vida como ela é" ao sabor de Nelson Rodrigues.
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quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Ponta de agulha
NONADA
Escrituras virtuais.
Já fazem décadas que procuro o significado destas escrituras, que se expandiram pela internet com a expansão do cyberespaço, povoado por andróides em games, tecnologias digitais de ponta, sociedade em rede e um novo olhar sobre a humanidade.
Talvez um olhar vesgo, caolho, míope, quando focamos a sedução consumista que estas tais novas tecnologias provocam. Mas, na essência, apenas um novo modo de ver o visto, de compensar a saturação da informação com o esquecimento.
Será que a memória será preservada em bits e bytes? As pessoas poderão ser apenas pessoas, que nascem e morrem no misterioso fenômeno de viver?
Volto a fita: "Nonada... " a dúvida é apenas o instante em que me coloco no mundo como um cidadão livre, que busca o conhecimento amplo do ser, como o instante em que a jabuticaba sai da flor, cria casca e sabor, e rola dos dedos prá boca da criançada, depois da chuvarada.
"Nonada ..." é meter o pé na na enxurrada, com calçado e tudo, e sentir aquela alegria de transgredir o limite entre o passeio e a rua, a navegar naquele rio passageiro, que assusta como um trovão, no instante de raio e tempestade para depois acalmar a tarde no bordado do arco íris.
"Nonada..." Mestre Guimarães Rosa teclava suas escrituras na máquina datilográfica, ou tecia nos bordados em texturas de rabiscos à mão, esparramados nos cadernos de viagem.
A palavra é palavra, analógica e digital, no seu estado bruto de pedra. Depois vem a cor da imagem da palavra que completa o assunto do momento.
De "alma lavada", tenho pontaria e fé nas bem-aventuranças da vida, o "coisa ruim" não me assusta e nem mais nada, cabeça nos deslizes do envelhecer, celebro a vida no terreiro: os netos correndo atrás de bola, a jaboticabeira florida, com minha mulher nas horas pequenas, e o cão que me vigia o tempo todo por tudo enquanto é lado da casa que ele faz de morada segura.
Nesta busca pelo conhecimento vivido, vou descobrindo velhas coisas que não sabia que sabia não saber, agora esqueço, a memória conta histórias do agora. Na rua conheço pessoas, como na roça, nos cumprimentos de passagem.
Quem vem lá?
Matheus e Fernanda?
Maíra e Pepito? Aline, Meno e Malaka? Carlão? Joãozinho, Lauzinha e Didi? Tem mais gente no samba do que na reza.
Acendam todas as lâmpadas, de correntes contínua e alternada. A música vai sair do vinil pra zoar no terreiro com a imitação da sanfona de Gonzaga, do violão de João, do grito tribal dos Beatles e dos desbundes de Caetano em "Eu sou neguinha". A festa promete varar a noite e atrapalhar o canto do galo, prá vingança de Chico com seu "Apesar de Você", já sem a chieira da vitrola, empacotado no CD para a leitura ótica dos raios laser, no equipamento de som .
Êta Brasilzão em que se plantando tudo dá ... delícias do "flashe Brasil" (manjericão) que dá cheiro e tempero e descobre um só formato de velhas e novas tecnologias, também dispensáveis na fugaz alegria do "viver de morrer" dito por Heráclito.
Nonada é tiro de pontaria, silêncio no burburinho da tarde, na cantoria da passarada.
Escrituras virtuais.
Já fazem décadas que procuro o significado destas escrituras, que se expandiram pela internet com a expansão do cyberespaço, povoado por andróides em games, tecnologias digitais de ponta, sociedade em rede e um novo olhar sobre a humanidade.
Talvez um olhar vesgo, caolho, míope, quando focamos a sedução consumista que estas tais novas tecnologias provocam. Mas, na essência, apenas um novo modo de ver o visto, de compensar a saturação da informação com o esquecimento.
Será que a memória será preservada em bits e bytes? As pessoas poderão ser apenas pessoas, que nascem e morrem no misterioso fenômeno de viver?
Volto a fita: "Nonada... " a dúvida é apenas o instante em que me coloco no mundo como um cidadão livre, que busca o conhecimento amplo do ser, como o instante em que a jabuticaba sai da flor, cria casca e sabor, e rola dos dedos prá boca da criançada, depois da chuvarada.
"Nonada ..." é meter o pé na na enxurrada, com calçado e tudo, e sentir aquela alegria de transgredir o limite entre o passeio e a rua, a navegar naquele rio passageiro, que assusta como um trovão, no instante de raio e tempestade para depois acalmar a tarde no bordado do arco íris.
"Nonada..." Mestre Guimarães Rosa teclava suas escrituras na máquina datilográfica, ou tecia nos bordados em texturas de rabiscos à mão, esparramados nos cadernos de viagem.
A palavra é palavra, analógica e digital, no seu estado bruto de pedra. Depois vem a cor da imagem da palavra que completa o assunto do momento.
De "alma lavada", tenho pontaria e fé nas bem-aventuranças da vida, o "coisa ruim" não me assusta e nem mais nada, cabeça nos deslizes do envelhecer, celebro a vida no terreiro: os netos correndo atrás de bola, a jaboticabeira florida, com minha mulher nas horas pequenas, e o cão que me vigia o tempo todo por tudo enquanto é lado da casa que ele faz de morada segura.
Nesta busca pelo conhecimento vivido, vou descobrindo velhas coisas que não sabia que sabia não saber, agora esqueço, a memória conta histórias do agora. Na rua conheço pessoas, como na roça, nos cumprimentos de passagem.
Quem vem lá?
Matheus e Fernanda?
Maíra e Pepito? Aline, Meno e Malaka? Carlão? Joãozinho, Lauzinha e Didi? Tem mais gente no samba do que na reza.
Acendam todas as lâmpadas, de correntes contínua e alternada. A música vai sair do vinil pra zoar no terreiro com a imitação da sanfona de Gonzaga, do violão de João, do grito tribal dos Beatles e dos desbundes de Caetano em "Eu sou neguinha". A festa promete varar a noite e atrapalhar o canto do galo, prá vingança de Chico com seu "Apesar de Você", já sem a chieira da vitrola, empacotado no CD para a leitura ótica dos raios laser, no equipamento de som .
Êta Brasilzão em que se plantando tudo dá ... delícias do "flashe Brasil" (manjericão) que dá cheiro e tempero e descobre um só formato de velhas e novas tecnologias, também dispensáveis na fugaz alegria do "viver de morrer" dito por Heráclito.
Nonada é tiro de pontaria, silêncio no burburinho da tarde, na cantoria da passarada.
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