NONADA
Uma tradução pela sedução do texto e pela sedição da palavra permite ao autor se passar por leitor. Assim como o lançamento de um livro, uma entrevista radiofônica, televisiva ou impressa, os fatos da vida de um escritor determinam a pauta dos Jornais e de suas manchetes. Objetivo: vender ilusões em meias verdades, que se espalham em estilhaços por links de informação sobre pixels, frames e papéis. O alvo: cidadãos da "urbe", velhos, crianças e jovens, civis e militares, numa apoplexia coletiva.
Nesse contexto, pensar é duvidoso, perigoso; provoca o choque de opiniões, o exercício da liberdade, a prática da ciência dos espíritos: Hermenêutica. Quem se atreve, se embaraça, mas nem sempre se embaça.
"Quem é capaz de suportar tudo pode atrever-se a tudo."
"Nunca separei o escritor da pessoa que o escritor é. A responsabilidade de um é a responsabilidade de outro."
Günter GrassO escritor alemão Günter Grass (1927) é assunto do dia por seu poema "O que precisa ser dito", publicado aqui na versão espanhola. Outras traduções: Revista Cult e blog Cantar a Pele de lontra IV
O que pensa o escritor define sua obra? Uma criança é apenas uma criança antes do adulto que a julgará no futuro? Questões se multiplicam a partir da polêmica criada por um escritor, que já não omite sua participação no front nazista; aqui, o que está em jogo é a paz no mundo em que vivemos, ou esquecemos disso e voltamos a ser criança.
A publicação de seu poema, em 2 de Abril último, pelo jornal alemão Süddeutschen Zeitung lança um alerta à censura praticada pelos adeptos do pensamento único, que condenam manifestações de oposição à ideologia neoliberal do mundo globalizado, das potências econômicas e militares, entre elas Israel, colecionadores de ogivas nucleares, camufladas em pátios e jardins de suas instalações bélicas, que escapam às inspeções da ONU (Organização das Nações Unidas).
Enquanto as atenções do mundo, manipuladas por agências de notícia e informativos afins, focalizam as rimas informativas e formativas de G. Grass, que retumbam sobre o poder nuclear de Israel e sua caricatura pelo Iran, o perigo dorme em silencio no palácio dos horrores, a ser aberto ao público no advento da Terceira Guerra Mundial, pouco antes dos sobreviventes humanos da hecatombe voltarem às cavernas.
Pesquisa sobre o Escritor e seu Poema revela milhares de links que oferecem adjetivações e juízos de valor, que vão desde a sumária condenação de Günter como "persona non grata" a sua popularização enquanto baluarte de manifestações pacifistas na Alemanha. A multiplicidade de informação interessa ao internauta leitor, sujeito atento, crítico, participante dos fatos; aos outros, sujeitos passivos, que não se importam com a complexidade de uma singularidade que cabe no espaço de um riso, a cena exposta "passa batida", ou seja, não é percebida.
Com a palavra o poeta, por EL PAIS INTERNACIONAL de 4 de abril de 2012, disponível em: <http://internacional.elpais.com/internacional/2012/04/03/actualidad/1333466515_731955.html>. Acessado em 09/04/2012.
Lo que hay que decir
El escritor alemán se opone a un ataque israelí contra Irán
Por qué guardo silencio, demasiado tiempo,
sobre lo que es manifiesto y se utilizaba
en juegos de guerra a cuyo final, supervivientes,
solo acabamos como notas a pie de página.
Es el supuesto derecho a un ataque preventivo
el que podría exterminar al pueblo iraní,
subyugado y conducido al júbilo organizado
por un fanfarrón,
porque en su jurisdicción se sospecha
la fabricación de una bomba atómica.
Pero ¿por qué me prohíbo nombrar
a ese otro país en el que
desde hace años —aunque mantenido en secreto—
se dispone de un creciente potencial nuclear,
fuera de control, ya que
es inaccesible a toda inspección?
El silencio general sobre ese hecho,
al que se ha sometido mi propio silencio,
lo siento como gravosa mentira
y coacción que amenaza castigar
en cuanto no se respeta;
“antisemitismo” se llama la condena.
Ahora, sin embargo, porque mi país,
alcanzado y llamado a capítulo una y otra vez
por crímenes muy propios
sin parangón alguno,
de nuevo y de forma rutinaria, aunque
enseguida calificada de reparación,
va a entregar a Israel otro submarino cuya especialidad
es dirigir ojivas aniquiladoras
hacia donde no se ha probado
la existencia de una sola bomba,
aunque se quiera aportar como prueba el temor...
digo lo que hay que decir.
¿Por qué he callado hasta ahora?
Porque creía que mi origen,
marcado por un estigma imborrable,
me prohibía atribuir ese hecho, como evidente,
al país de Israel, al que estoy unido
y quiero seguir estándolo.
¿Por qué solo ahora lo digo,
envejecido y con mi última tinta:
Israel, potencia nuclear, pone en peligro
una paz mundial ya de por sí quebradiza?
Porque hay que decir
lo que mañana podría ser demasiado tarde,
y porque —suficientemente incriminados como alemanes—
podríamos ser cómplices de un crimen
que es previsible, por lo que nuestra parte de culpa
no podría extinguirse
con ninguna de las excusas habituales.
Lo admito: no sigo callando
porque estoy harto
de la hipocresía de Occidente; cabe esperar además
que muchos se liberen del silencio, exijan
al causante de ese peligro visible que renuncie
al uso de la fuerza e insistan también
en que los gobiernos de ambos países permitan
el control permanente y sin trabas
por una instancia internacional
del potencial nuclear israelí
y de las instalaciones nucleares iraníes.
Solo así podremos ayudar a todos, israelíes y palestinos,
más aún, a todos los seres humanos que en esa región
ocupada por la demencia
viven enemistados codo con codo,
odiándose mutuamente,
y en definitiva también ayudarnos.
Traducción de Miguel Sáenz. El texto original en alemán se publica hoy en el diarioSüddeutsche Zeitung