ENVELHECER COM ARTE
Existem pessoas que participam de nossa vida de maneira definitiva, visível e risível, translúcidos e evidentes como um rastro de cometa no céu. Intransferíveis, ficam impressos em nossas retinas auditivas como o luar do último sábado, dia 5, atração em todo o planeta Terra.
legenda: Maior e mais brilhante, a 'superlua' apareceu na noite de sábado
disponível em: <http://br.noticias.yahoo.com/fotos/superlua-slideshow/supermoon-may-not-exactly-super-photo-000806800.html>
Hoje, fora dos palcos, dentro de nossos corações e mentes, Rita se aproxima de nossa realidade, com seu eterno namorado, Roberto, em sua família musical, a nos mostrar trilhas e caminhos sonoros e visuais, em músicas que tocam velhos e novos seres que pensam o Brasil, modernos sem ser chique, altivos sem se orgulhar disso. Vamos juntos em nosso "Paradise Brasil".
"Aquele abraço Rita Lee!"
Contigo aprendi a suportar o silêncio da noite sem luar,
o ranger de dentes dos aflitos,
torturados pelo medo do invisível,
do noticiado pelos jornais da televisão,
concessões dos hipócritas fardados e à paisana,
a rondar o parque de diversão infantil.
Naquele parque tem um velho e enferrujado tanque de guerra e crianças a brincar ao redor.
Envelhecer é o aprendizado mais significativo de uma vida, calma, sem pressa. Aqui a velocidade fica ancorada nos esquemas utilitários da tecnocracia neoliberal (nome besta) cultuada pelos engravatados apressados, que não sacaram nada, pois têm "cabeças de planilhas", seguem as estatísticas, os números, pré ocupados a correr atrás de um tempo sem tempo.
Santa Rita chegou com as guitarras, o pandeiro sem couro, violão. Assim como quem não queria assumir nenhum poder, apenas cantar e DIVAGAR, sem medo de errar ou pecar. Assim, também vieram com ela Gil, Gal, Bethânia e Caetano, mãos dadas com Chico, Nara, Tom Zé, Torquato Neto (poeta cometa), na esteira de João Giberto (o gande deus tupiniquim, imperfeito, mais que perfeito), Tom Jobim e Vinicus de Moraes.
Aqueles idos 1970 ficaram nos exílios impostos e voluntários, relatos de torturas silenciados nos porões da ditadura militar. Nos encontros furtivos, malucos beleza, nos parques e jardins; Raul Seixas tocando violão no ônibus de Ipanema. O pier, o vapor barato, Gal tomando sol no mar da Guanabara. Meninos e meninas fumando um baseado ( a maconha não era skank, era "Tebas" vinda das terras indígenas e caboclas, do Maranhão).
As traquinagens daqueles artistas eram cômicas para não cair na tragédia sanguinária que os brutamontes fardados impunham ao povo brasileño, em particular, e à América Latina, em geral. Cômico aos funcionários do hospital da Gávea, São Francisco de Assis, em que Chico, Vinicus, Tom Jobim e a turma dos bares do Leblon se internavam para "desintoxicar" e, na calada da noite, fugiam para outros porres, antes do alvo amanhecer nos leitos desse nosocômio.
As cores são tristes e belas enquanto envelhecemos. Aprendemos a esquecer e ser esquecidos. Nossos amores se matizam em tonalidades sépias, nossa esperança se faz gris. Todo cambia. Passamos como o rio de nossa cidade, agora veloz dentro de sua canalização, silenciado pelos veículos apressados que ignoram suas margens,a correr pelas autopistas sobre o seu leito.
As liberdades das tecnologias digitais não condizem com a ganância do capitalismo; Rita Lee disponibiliza seu último trabalho, sem custo, para aqueles que seguem "sem lenço e sem documento" na contramão da multidão abastada, silenciada pela mediocridade dos "podres poderes", espremida nos ônibus, metrô e calçadas do centro da cidade. É na periferia dos sentidos que reencontraremos Rita Lee, sempre que se acionar uma tecnologia móvel de áudio e vídeo, pela internet ou pelos sentidos ativados pelos "egoístas" fones de ouvidos de um celular.
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