NONADA
Criar palavras é um prazer, quase infantil, um ato de liberdade do indivíduo na orla da arbitrariedade do signo, um gesto de atrevimento do ser criativo, que o conduz pelo discurso linguístico em imersão na lógica, na semiótica, dos contratos estabelecidos na esfera da comunicabilidade.
Podemos dizer tudo e não dizer nada. NONADA.
A invenção desta palavra é atribuída a João Guimarães Rosa, em seu ontológico romance "Grande Sertão Veredas". Mas, da invenção da palavra à definição de seus significados, outras trilhas se abrem, outra interpretação. Uma definição apressada diria que NONADA significa "coisa alguma", o que se pulveriza na leitura da frase que segue ao enunciado, em se tomando como exemplo a obra literária de Rosa:
" - Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade". (ROSA, 1988, p.1).
Com as tecnologias da informação e da comunicação, visíveis como um processo em permanente mutação através da internet, a criação e modulação da palavra é instantânea, mediada por máquinas: os computadores. Nesse contexto o papel impresso e a imagem estática são transfigurados pela Computação Ubíqua - Ubiquitous Computing (UBICOMP). A criação e a criatura se assemelham no mais novo tormento aos escritores. Nonadas passa a ser o dedo no gatilho e o estampido da espingarda.
A singularidade é que continuamos com o mesmo prazer infantil de criar textos e contar histórias, só que a ação é mediada por máquinas que também participam dos comandos de nossa mente. Nonadas.
Dicio: dicionário de português
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